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Arquitetos: Madeiguincho
- Ano: 2021
Descrição enviada pela equipe de projeto. Fomos desafiados por uma artesã portuguesa a projetar e construir um estúdio de cerâmica adjacente a sua casa, onde anteriormente havia duas vagas de estacionamento. A artesã realiza trabalhos de pesquisa em diversas áreas, como cerâmica, jóias e pintura, necessitando assim de um espaço multifuncional que permita que a diversidade de tarefas associadas a seu trabalho seja realizada de forma fluida e organizada.
Na busca de referências de design, juntamente com o cliente, foi decidido que o conceito escandinavo "Hygge" seria a âncora deste projeto. "Hygge", não tem uma tradução direta para o português. É algo intangível e associado a um estado de espírito que transmite serenidade, abrigo, conforto e calor. Em suma, nos dá uma agradável sensação de bem-estar e apreciação pelas tarefas do dia-a-dia, quando realizadas no conforto de um lugar que se pode chamar de lar.
Portanto, procuramos explorar como as decisões relacionadas ao projeto arquitetônico e de design de interiores, como forma, materialidade, sistemas de aberturas, iluminação natural e artificial, organização e permeabilidade dos espaços, mobiliário fixo e móvel, relações com o exterior e integração no contexto urbano, poderiam ser tomadas com o objetivo de transmitir as sensações mencionadas acima e relacionadas ao conceito de "hygge".
Quanto à forma geral do estúdio, na parte adjacente à casa, optamos por um telhado plano, continuando o telhado da casa. Na parte voltada para o vizinho, optamos por um telhado de empena, que nos lembra a sensação de casa e facilita o fluxo da água da chuva que seria recolhida e que permite admirar as árvores por dentro, tornando-as parte da experiência do estúdio. Com relação à materialidade, optamos por utilizar madeira de abeto para a estrutura visível e compensado de bétula para as paredes internas, assim como para os móveis.
Como a madeira é um material vivo, foi através do diálogo sereno entre os diferentes tons, texturas e orientação dos veios da madeira utilizada que procuramos obter a atmosfera e o ambiente desejados. No piso, optamos por um piso de fibrocimento para dar-lhe um aspecto mais industrial.
Quando visitamos a casa da artesã, à qual o ateliê/ateliê estaria ligado, verificamos que há uma presença constante de luz e uma relação ampla e privilegiada com a paisagem, que é intensificada pelas grandes janelas da casa. No ateliê, optamos, em oposição às grandes janelas da construção existente, por um espaço voltado para dentro, concentrando toda a tensão/privilégio desta relação com a paisagem (mar e cidade) em um único elemento, a janela circular que funciona como um óculo.
Na fachada de entrada do estúdio, optamos por uma estrutura translúcida em policarbonato alveolar que permite a entrada de luz difusa no espaço, tornando o espaço quente e sereno ao mesmo tempo. Do interior, esta fachada tem uma estrutura de madeira influenciada pelas tradicionais estruturas anti-sísmicas portuguesas ("gaiola pombalina"). Do exterior da fachada, optamos por um painel de ripas oco e vertical que penetra na fachada de concreto da construção existente, como uma estrutura parasitária, que se espalha e acaba fazendo parte de um sistema único. Desta forma, a partir do exterior, não se vê separação entre o prédio existente e o novo estúdio/ateliê.
Quanto aos móveis, como o estúdio/ateliê é um espaço com uma enorme diversidade de objetos, ferramentas e tarefas, optamos por projetar e construir os móveis com caixas de instalação livre, o que facilita a disposição do espaço. A estrutura dos móveis, por sua vez, foi projetada e construída com uma estrutura de encaixes padronizados e repetitivos, que dão ordem ao processo criativo e que dialogam com o ritmo da estrutura do estúdio. A mesa circular tem a mesma forma e dimensões da janela redonda, e é o elemento disruptivo que faz a circulação fluida e liga os vários elementos presentes no ateliê.